Saí de casa, desci dois degraus do primeiro lance de escadas e lembrei: o ingresso do concerto! Voltei, peguei o ingresso que estava na porta da geladeira, saí de casa. Cheguei no ponto e logo veio o meu ônibus. Abri a bolsa e percebi: a carteira! Voltei, peguei a carteira que estava na bolsa que usei ontem, saí de casa. É claro que depois o meu ônibus demorou pra passar, mas no final cheguei a tempo e ficou tudo certo. Na vida há de ser assim também. Que eu possa dizer -- cheguei a tempo. Tudo certo.
21 de ago. de 2025
11 de ago. de 2025
O Instagram Me Trancou Do Lado De Fora E Agora Eu Sou Livre
Domingo de manhã eu acordei e quando fui abrir o Instagram -- porque, sim, a primeira coisa que eu faço de manhã é pegar no celular -- vi a página de login ao invés do meu feed. Agora o Instagram quer o meu número de celular como medida de segurança para permitir que eu continue com a minha conta, e eu não sei se essa é uma informação que eu quero passar para eles. Também não sei se nos dias de hoje é muito produtiva a minha preocupação com privacidade -- a Meta já tem o meu celular, já que eu sou forçada a ter WhatsApp. Mas acontece que há um tempinho eu vinha pensando em me livrar do IG, e acabou que eles tomaram a decisão por mim.
A minha conta era privada e me servia apenas para acompanhar a agenda cultural da cidade, programação do cinema, uns sebos, lançamentos editoriais e alguns meios de comunicação da prefeitura e veículos de notícias. E às vezes dar uma espiada na vida dos outros, naturalmente. Era uma solução muito prática acompanhar tudo em um lugar só; alguns museus e espaços culturais menores tem o IG como principal meio de divulgação, e acompanhando eles por lá eu conseguia ficar ciente das atividades que estavam oferecendo sem ter que ir até eles. Tudo isso é muito legal e bonito, mas eu geralmente era puxada para o vórtice do Explorar e perdia um tempo preciso da minha vida mergulhada no mais puro brain rot. E também, do que adianta eu ver que o museu perto daqui de casa inaugurou uma exposição sobre, sei lá, cultura ribeirinha, se eu não for lá ver?
A solução que encontrei foi voltar a navegar na web como faziam os maias e os astecas. Criei pastinhas na barra de ferramentas e fui adicionando os sites de alguns dos perfis que eu costumava seguir -- no total eram 61 e eu consegui lembrar de 55, o que foi uma grande surpresa já que minha memória é péssima. Agora não vou mais abrir uma rede social para ver a programação do cinema e me perder nela: é só abrir uma nova aba no navegador, ir na pasta Programação, clicar no site do cinema e pronto. O Firefox tem uma função simples, mas maravilhosa, de abrir todos os sites de uma pasta de uma vez só, o que me permite abrir todos os sites de notícias e ir fechando eles um a um depois de dar aquela lida básica na primeira página logo de manhã.
Há um tempinho atrás eu flertei com a ideia de ter um dumbphone, mas para mim é impossível -- não só porque sou refém do WhatsApp, mas também porque um telefone moderno tem ferramentas que realmente me são úteis: mapa, aplicativo de banco, câmera, acesso à nuvem. Mas estou satisfeita com o jeito que as coisas estão agora. Eu já tinha tentado excluir o IG, porém acabava voltando por causa da praticidade de acompanhar tudo num só feed. Estou otimista com o sistema da barra de ferramentas, mas também me sentindo um pouco estúpida por estar tão satisfeita com uma solução tão simples (não é como se eu tivesse inventado a roda).
É legal entrar nos sites ao invés de ver vários quadradinhos em sequência. Tinha esquecido o quanto o site da Quatro Cinco Um é bonito, já que tinha séculos que eu não entrava lá pelo desktop. Quero usar esse tempo livre que antes era desperdiçado nadando no brain rot para ir na livraria comprar a edição do mês da Quatro Cinco Um, que eu não compro desde o final do ano passado. Aí aproveito que no caminho tem um museu e entro lá para dar uma olhada e descobrir qual exposição está em cartaz, talvez até perguntar para alguém que trabalha lá se vai ter algum evento nas próximas semanas. Eu sempre achei muito bonita a cultura ribeirinha.
+ I hate my phone so I got rid of it, do Eddy Burback.
+ O Inferno é a Nuvem, do Calma URGENTE!!!
30 de jun. de 2025
Fascínio
Tudo isso há muito tempo atrás: O clipe de "All the Things She Said" da dupla t.A.T.u. Billy Elliot (dir. Stephen Daldry). As Hex Girls. A Ana Carolina. O Ryan, de High School Musical (dir. Kenny Ortega). Aquela garota que andava de bicicleta com os meninos na pista de skate. A Adriana Calcanhotto. A abertura da novela Belíssima. A Kelsey, de High School Musical (obrigada por tudo, Kenny Ortega!). Kissing Jessica Stein (dir. Charles Herman-Wurmfeld). As Sailors Neptune e Uranus, de Sailor Moon. A Maria Gadú. D.E.B.S. (dir. Angela Robinson). As Sereias da Rive Gauche, da Vange Leonel. Jennifer's Body (dir. Diablo Cody). Aquele casal de moças que vi na praia quando estava no calçadão com a minha mãe, e nós duas fingimos que não vimos nada.
14 de jun. de 2025
16 de junho
No intervalo do concerto fiquei em pé, sozinha, me sentindo meio estúpida enquanto segurava uma dose de whiskey irlandês generosa demais para mim, que não sou de beber. Esse tipo de coisa faz parte da experiência, então quando a moça perguntou aceita? eu disse claro, sim, obrigada e pelo menos passei a ter um copinho plástico para ocupar as mãos. Tentei me distrair olhando os outros, gente que colocava o whiskey pra dentro com muito mais facilidade do que eu, mas não consegui achar nada interessante e foi um alívio quando o intervalo chegou ao fim. No caminho de volta para casa, eu não conseguia parar de admirar essa liberdade, liberdade de poder sair e andar por aí e ouvir música e beber e ver lugares novos: ontem nunca estive aqui, hoje olho para a copa destas árvores e amanhã não vou mais poder andar por esta rua pela primeira vez.
Comecei a pensar neste post de volta ao auditório, depois de vitoriosamente terminar minha dose. Escrevo ele agora, e você o lê no meu futuro.
12 de jun. de 2025
Dia dos namorados não é dia de São Valentim
O dia amanheceu escuro e chuvoso e eu tive que juntar coragem para lavar a cabeça na água fria. Ontem me apareceu uma espinha na testa, então joguei a franja pra frente pra cobrir ela. Preparei a primeira caneca de chá do ano, Earl Grey, meu favorito. Esquentei as mãos na caneca de chá. Tentei ser produtiva no trabalho. Li poesia. Senti frio. No fim do dia, na volta para casa, passei por uma roda de samba e estavam tocando uma das minhas favoritas do Jorge Aragão -- pra onde você for, lá pra mim já é... Esbarrei no cara que partiu o coração da minha melhor amiga. Ou ela mesma partiu o próprio coração, eu sei lá. A vida é engraçada. Chegando em casa, espremi aquela espinha.
20 de mai. de 2025
Sem título IV
A juventude é feita pra gente deixar oportunidade passar. A experiência só vem com o tempo, e quando ela chega já é tarde demais (palavras da minha mãe). Quando penso nisso sempre lembro de uma colega da época do ensino médio. Eu a achava lindíssima. Ela era um ano mais velha, extrovertida e encantadora e amiga de uma amiga. Passávamos o intervalo no mesmo grupo, trocávamos recomendações de livros, nossas conversas iam de religião à política e eu a admirava: ela era feminista. Um dia uma outra amiga em comum me mandou uma mensagem: o que você acha de fulana? Nas entrelinhas: ficaria com ela? Desconversei, sabe-se lá porquê. Anos depois entendi que estava sendo sondada, e lá se foi a oportunidade. Hoje, quando estava lembrando dessa história, lembrei também do sobrenome dela. Não resisti e procurei no Instagram. Ela cursou artes visuais, é tatuadora, ainda mora na nossa cidade. Continua lindíssima. Uma vez, pro aniversário dela, comprei um livro de poemas do Álvares de Azevedo e uma antologia de poemas modernistas, mas fiquei com vergonha de entregar pra ela. Tenho eles até hoje.
19 de mai. de 2025
Palavra guardada
Hoje mais cedo estava passando roupa enquanto ouvia uma entrevista do Gregório Duvivier. Deixo abaixo a transcrição de um dos meus momentos favoritos:
Leitura é muito fundamental, sabe? Ler, ler, ler, ler, ler, ler, ler, assim. E uma coisa que eu gosto, também, é- de algumas coisas- é curioso, porque é super careta isso, conservador, os professores torcem o nariz, mas eu adorava decorar coisas, me ajudou muito a decorar até hoje. E tem uma guerra contra decoreba, que faz sentido, porque decoreba é um saco: ah, tem que- a tabuada- aquela coisa. Mas eu adorava decorar poema, por exemplo, gostei de poesia, no começo, decorando os poemas que os professores pediam e a gente tinha que declamar. É uma coisa que não tem mais na escola hoje em dia, que é mal vista, mas o exercício de saber coisas de cor é uma delícia, um poema que você sabe de cor é um presente que você ganha pra vida toda, é uma companhia que você tem, gratuita, pra qualquer momento de trânsito, de ócio, de- não- você saber um poema de cor é uma ferramenta que você ganha no seu bolso eternamente.
Ano passado uma das minhas poucas metas foi decorar um poema -- e consegui! Então sei que é verdade isso. Às vezes estou caminhando por aí e quem me faz companhia são os versos de Vinicius de Moraes.
3 de mai. de 2025
Feriadão
Quinta coloquei a casa em ordem -- já tinha tempo que não me dedicava a isso, confesso --, arrumei as coisas, puxei os móveis, varri tudo, lavei a cozinha e área de serviço, troquei a roupa de cama e banho, coloquei a máquina para bater duas vezes, lavei o banheiro. Saí só para almoçar no restaurante que passei a frequentar recentemente e percebi que a garçonete já me conhece de tanto eu ir lá. Sexta foi dia de sair e andar pelo centro. Fui comprar uma blusa de frio e aproveitei para me arriscar e procurar uma calça jeans legal (trabalho hercúleo) e dei a sorte grande de gostar da segunda calça que experimentei, que de quebra estava com um preço ótimo. Quebrei a unha, que já é curta, experimentando a calça. Andei sem rumo pelo shopping, só por andar. Comprei uma cartela de adesivos que não vou ter coragem de usar. Depois do almoço, fui em um dos meus museus favoritos, fiquei sentada no jardim um pouquinho e percebi que sinto falta demais de ter um quintal. Lavei a roupa nova. Fui no cinema: Sempre garotas (dir. Shuchi Talati). Percebi, só de noite, que esqueci de tomar meu remédio de manhã. Dormi mal. Hoje, sábado, fui no meu sebo favorito, comprei alguns calhamaços (cinco) e voltei direto pra casa porque não tinha condições de carregar aquele peso todo pelo centro. Almocei horrores. Fui no mercado. Passei um monte (um monte) de roupa enquanto ouvia uma playlist da Mitski. Desisti de ir no cinema: Mulholland Drive (dir. David Lynch). Fiquei jururu porque amanhã já é domingo e essa maré mansa vai acabar. Comecei a escrever esse negócio aqui.
Tenho que responder os comentários aqui do bloguinho, comentar nos blogs que eu leio, dar um jeito no tanto de rascunho abandonado pela metade que tem por aqui -- achei que fosse resolver isso no BEWA, mas não foi dessa vez. Tenho que colocar as leituras em dia, tenho que escrever, tenho que atualizar meu currículo, tenho que um monte de outras coisas. Mas durante esses três dias foi bom organizar a casa, cuidar das minhas coisinhas, e deixar as preocupações para segunda. No meio do caminho notei que estou começando a me sentir eu mesma outra vez, o que é uma bonança depois desse tempo todo meio desalinhada.
Amanhã, domingo, eu vou desejar que seja sábado outra vez. Talvez eu assista Nosferatu (dir. Robert Eggers).
23 de abr. de 2025
Zuma Deluxe
Recentemente, me dei conta que eu poderia pesquisar alguns dos meus jogos de infância no Steam e, quem sabe, experimentar a feliz coincidência de encontrar um deles por lá.
Um desses jogos é o Zuma Deluxe (2003), um joguinho de puzzle no estilo combine três, o que, claro, é um grande sucesso entre a garotada mais descolada. Nele, o jogador é responsável por controlar um sapinho de pedra que lança as esferas, formando as combinações. Todo o jogo tem uma inspiração... inca? maia? e absolutamente nenhuma história, nem que meia tigela, de plano de fundo. Por que um sapo de pedra? Porque a vibe asteca? Ninguém vai te explicar.
O Deluxe é uma versão aprimorada do Zuma, e uma versão aprimorada do Zuma Deluxe, chamada Zuma's Revenge, foi lançada em 2009 com gráficos mais bonitinhos, porém sem a música que é marca registrada do jogo (vídeo abaixo), perdendo assim alguns pontos comigo. Comprei os dois por R$ 2,47 cada numa promoção, mas o preço normal é R$ 9,90 cada. Se você nunca jogou Zuma Deluxe na sua primeira infância num computador dinossauro no quarto dos seus pais, recomendo esperar alguma promoção, caso queira jogar.
1 de abr. de 2025
BEWA 2025
Hoje é primeiro de Abril e esse é o segundo post do ano (deus do céu, o que está acontecendo?). A Lana do PorceLana está organizando a segunda edição do BEDA semanal -- o BEWA. Eu participei do primeiro e desde o início do ano já estava pensando nos quatro posts do mês, mas é claro que não rascunhei nem planejei nada. Vai ser tudo no susto mesmo, mas há de dar certo. Vai ser a oportunidade perfeita para dar andamento a alguns dos dezesseis (!!!) posts que estão no limbo da pasta de rascunhos.
31 de jan. de 2025
Um ano no litoral
Hoje, 31 de janeiro, faz um ano desde minha primeira postagem nesse bloguinho. Na época, ter um blog era algo que eu queria fazia um tempo, mas vivia adiando por insegurança. Pra que um blog? O que eu vou postar? E quem é que vai ler? Bom, quis um blog porque acho divertido. Posto o que der na telha, e tudo bem se os meus posts são só sobre uma bobeirinha que eu vi e gostei e não uma resenha estupenda ou um texto sublime. E quem lê é você.
Achei que seria legal deixar registrado os cinco posts mais lidos do ano. Tiveram alguns empates, então tecnicamente são os sete posts mais lidos do ano. Foi engraçado perceber que os três posts mais populares (primeiro e segundo lugares) foram os menos planejados e os que eu escrevi mais rápido.
1. AGF / Giselle mad scene
2. Sem título
3. O diabo disfarçado de mulher
4. Os melhores "Melhores do Ano" de 2024 / I'm in the pleasure business
5. Leitura de outubro (sim, no singular)
Queria agradecer a quem tira um tempinho para passar por aqui e ler o que eu escrevo, saiba que fico muito agradecida, mesmo. Também queria pedir
desculpa por essa ausência -- que nem é tão grande assim, considerando
que o último post é de 26 de dezembro, mas para mim parece que foi há
mais tempo. Janeiro é sempre um mês tão longo...
26 de dez. de 2024
Os melhores "Melhores do Ano" de 2024
Eu tinha pensado em fazer uma lista das melhores leituras do ano, ou talvez dos melhores filmes, mas no final das contas tive a brilhante ideia de deixar esse trabalho de retrospectiva pros outros e simplesmente listar as melhores (e/ou mais conceituadas/populares) listas de melhores do ano. Praticidade é tudo!
Os Melhores Livros de 2024, Quatro Cinco Um
A Quatro Cinco Um, a revista dos livros, perguntou para 180 colaboradores quais foram os melhores lançamentos do ano. Ela não forneceu uma lista preliminar, o que é legal porque amplia as possibilidades de respostas, mas o que é ruim porque resultou num monte de livro com 1 votinho só. É por causa dessa lista que eu estou doida para ler O homem não existe: masculinidade, desejo e ficção, da Ligia Gonçalves Diniz.
Os mais lidos de 2024, Portal da Crônica Brasileira
No início do mês o Guilherme Tauil postou no Portal quais foram os autores e as crônicas mais acessadas do ano. Das favoritas do público, destaco "O padeiro", do Rubem Braga (meu queridinho e queridinho de muita gente também, já que ficou com o primeiro lugar na categoria perfil mais acessado).
The Best Movie Posters of 2024, MUBI
Aparentemente, na MUBI eles têm um movie poster columnist -- ou seja, o emprego dos sonhos: é tipo a Carrie Bradshaw se ela fosse cinéfila. Não dá pra viver só disso, claro, assim como a gente sabe que não tinha como a Carrie se manter na NY dos anos 1990/2000 tendo só uma coluna de jornal sobre sexo, mas a gente pode sonhar. O Adrian Curry -- o movie poster columnist -- reuniu os melhores designs do ano, tradição que ele tem desde 2009, pelo menos. Atenção para o poster de Retratos Fantasmas (dir. Kleber Mendonça Filho) em sexto lugar. Brasil-sil-sil!!
The 10 Best Books of 2024, The New York Times
Um tempinho atrás o NYT lançou uma lista com os 100 melhores livros do século. Agora foi a vez dos 10 melhores do ano, que foram escolhidos pela própria equipe do jornal. Lá no finalzinho da página tem outras listas de 10 melhores livros -- os 10 melhores livros de romance, thriller, etc, etc.
Goodreads Choice Awards 2024, Goodreads
Desde 2011 o Goodreads escuta a voz do povo e organiza uma votação para eleger os melhores livros do ano, divididos em suas respectivas categorias. A votação de 2024 angariou 6,261,936 votos (!!!) e elegeu um monte de livro que eu não conheço. Também foi aqui que eu descobri que, pelo jeito, romantasy é um gênero literário agora.
Hodges Figgis' Book of the Year, Hodges Figgis Booksellers
A Hodges Figgis é, simplesmente, a livraria mais antiga da Irlanda, fundada em 1768. Eles organizaram a lista de melhores do ano em três categorias: Livro do Ano, Livro Irlandês do Ano e Livro Infantil do Ano. Até aqui eu tentei ser cuidadosa ao explicar como cada publicação fez para construir sua lista, mas não encontrei muito sobre como a Hodges Figgis escolheu os vencedores. Graças a eles descobri que o Colm Tóibín lançou, agora no final do ano, uma continuação de Brooklyn que estou ansiosa para ler.
13 de dez. de 2024
Leituras de novembro (quase que no singular de novo)
Em novembro fiz o que estava querendo fazer há um tempo e reli Paixão Simples, da Annie Ernaux. Depois disso li O Jovem, também da Ernaux. Se Paixão Simples é um livro curto, com 61 páginas, esse é menor ainda, com 56 páginas. E só 30 delas são de texto, o resto é dedicado à fotografias da autora -- a primeira foto, inclusive, é a mesma da capa de Paixão. Francamente, acho que tudo poderia ter sido um livro só, levando em consideração que são dois textos curtos (nenhum deles é dividido em capítulos, apesar de ter quebras de texto ao longo de ambos) e que tratam de temas em comum: o processo de escrita, desejo, tempo, memória...
Eu aproveitei que em novembro teve promoção no site da Travessa e comprei alguns títulos da Ernaux, O Jovem incluso. Só depois fui ver que a Todavia lançou um box lindíssimo com todos os livros dela que eles publicaram aqui no Brasil e quase espumei pela boca dentro da livraria (hipérbole).
30 de nov. de 2024
Sem título #3
Sábado é dia de andar por aí, mesmo depois de uma semana inteira mal dormida. Passei os últimos dias ansiosa e apreensiva, o que geralmente bagunça o meu ritmo. E, além desses últimos dias, outubro também foi um mês complicado e novembro seguiu no mesmo compasso. Mas aí o que estava me tirando o sono durante a semana se resolveu ontem, no penúltimo dia do mês, num desfecho que não é o fim, mas uma promessa -- eu espero! -- de coisa boa, bonita e letrada.
Então sábado é dia de andar por aí, feliz, na esperança que esse deleite dure e dure e dure e permaneça comigo por tempo o suficiente para que eu faça o que tenho que fazer e, quando eu ficar triste, que a lembrança desse estado de contentamento seja o suficiente para me encorajar.
Agora tudo é lindo: o casal de noivos saindo da igreja, o pombo aos pés de S. Sebastião, a banda tocando Bohemian Rhapsody, a senhora com um ventilador portátil na mão, o senhor sorrindo e me chamando de menina, a loja de CDs tão movimentada que é impossível andar sem pedir licença o tempo todo, a gringa se desenrolando em português mesmo eu sabendo inglês, a água de coco cara, esse tanto de árvores de Natal. E eu faço parte desse mundo e tenho tanto amor por ele que às vezes parece até impossível ser triste.
17 de nov. de 2024
I'm in the pleasure business
Não sou muito familiarizada com o trabalho do Anthony Bourdain, mas um tempo atrás li uma citação atribuída a ele e vira e volta me pego pensando nela:
"As a chef I'm not your dietician or your ethicist, I'm in the pleasure business."
Mas como é fácil atribuir qualquer fala a qualquer pessoa, fui em busca da fonte na esperança do Bourdain realmente ter falado isso. Primeiro cheguei até o Eater.com, que me mandou para o Grub Street. A frase em questão é sim do Bourdain (uhul!), e ela veio de um painel em que ele participou com os chefs Alice Waters e Duff Goldman em maio de 2009.
É uma pena que eu tenha encontrado somente trechos do painel; dá para perceber que tem certas falas em que os chefs fazem referências a coisas ditas anteriormente. Enfim, deixo aqui o vídeo que tem a citação em questão. Abaixo do corte está a transcrição das duas principais falas do Bourdain presentes nesse
trecho, já que acredito que a segunda complementa a primeira, e a minha tradução. Caso alguém se interesse pela tradução do vídeo todo, é só avisar.
8 de nov. de 2024
O Quarto ao Lado (2024), dir. Pedro Almodóvar
Saí agora pouco de uma sessão de O Quarto ao Lado, do Almodóvar. A sessão não estava cheia -- também, é uma terça à noite -- e eu fui sem ver o trailer do filme, sabia só que se tratava de duas amigas de longa data que voltam a ter contato depois de anos separadas.
A trama revolve em torno de Ingrid (Julianne Moore) e Martha (Tilda Swinton): Martha, já debilitada devido a um câncer e com pouca perspectiva de melhora, e decidida a ter uma morte digna ao invés de definhar, pede a Ingrid para acompanhá-la durante seus dias finais. Juro que não quero ser chata, mas não consigo deixar de pensar que a ideia de Martha para sua morte não faz sentido. Por que a necessidade de estar acompanhada, se ela comete o ato quando Ingrid nem está em casa, no quarto ao lado? Por que deixar Ingrid nessa posição vulnerável de cúmplice? E, principalmente, sendo ela uma pessoa instruída e com recursos, por que não a Suíça?
Martha e Ingrid são personagens planas, e nada inferia que elas eram amigas além do fato que isso foi explicitamente dito logo no início. Moore e Swinton, surpreendentemente, apresentaram uma atuação engessada que destoa daquilo que elas são capazes de entregar. O diálogo, por sua vez, era forçado e pouco convincente, as personagens falavam o que sentiam, falavam o que estavam fazendo e discursam com pouquíssima naturalidade seus pontos de vista, deixando pouca abertura para qualquer tipo de sutileza. Li alguns comentários que sugeriam que isso é devido a um problema de tradução (é o primeiro filme em inglês do Almodóvar) e que talvez a coisa toda fosse soar melhor em espanhol, mas, francamente, acho que o diálogo que era fraco mesmo.
Como ponto positivo, posso dizer que a Tilda Swinton estava lindíssima e com um figurino impecável que eu fiquei invejando durante a maior parte do filme. A escolha dos tons de batom utilizados pela Julianne Moore também foi fantástica e me fez até pensar "eu deveria usar uns batons assim!", me esquecendo completamente que eles realçam minhas olheiras.
***
Escrevi esse post dia 05/11/2024, logo que saí do cinema mesmo. Engavetei ele por uns dias para ruminar e achar ele ruim, desistir de publicar, desistir de desistir e decidir publicar do jeito que estiver e pronto, tanto faz. Agora solto ele na natureza.
E deixo aqui a crítica da Isabela Boscov, que é muito mais articulada do que eu.
5 de nov. de 2024
Leitura de outubro (sim, no singular)
Gostaria de poder falar que esse mês minhas leituras não renderam porque estive ocupada com as leituras acadêmicas, ou porque estive atarefada com compromissos do trabalho. Talvez porque finalmente iniciei aquela aula de desenho que venho sonhando a tempos e agora passo todo o meu tempo livre rascunhando. Porque voltei a caminhar todo dia, porque comecei até a correr. Porque larguei tudo e fui fazer um mochilão pela América Latina, porque resolvi virar monge, porque estou apaixonada demais para ler...
Comprei Paixão Simples, da Annie Ernaux, no início de outubro. O livreiro, quando me viu com ele na mão, recomendou muitíssimo a leitura e profetizou que eu iria iniciar e terminar no mesmo dia da compra -- é um livro curtinho, 61 páginas, então não foi uma façanha muito difícil. Paixão Simples, publicado inicialmente em 1991, vai tratar do caso que a autora viveu com um homem casado e mais novo. No fundo, o livro não é sobre o caso, nem sobre o homem e nem sobre a própria autora; no final da página 60, lemos: "Ele me disse 'você não vai escrever um livro sobre mim'. Ora, mas não escrevi um livro sobre ele, nem sobre mim mesma. Apenas expressei com palavras -- que talvez ele nem leia, e não são destinadas a ele -- o que a existência dele, por si só, me trouxe. Um tipo de dom reverso".
Está arriscadíssimo que Paixão Simples seja o melhor livro que li em 2024. Inclusive, estou doida para reler, o que quase fiz logo no dia seguinte que concluí a leitura pela primeira vez. Não estou escrevendo isso aqui para ser uma resenha, é só o post da leitura do mês (ou seja, é pra ser breve), mas essa leitura me deixou completamente embasbacada e eu recomendo demais da conta, mesmo. Ernaux tem uma escrita extremamente precisa, sem rodeios, mas com uma expressividade e alcance imensos. Foi realmente um livro delicioso de se ler.
A edição é da Editora Fósforo -- muito caprichada, papel Pólen Bold 90 g/m², com um projeto gráfico que também marca os outros livros da autora lançados pela casa, pra todo mundo ficar combinando na estante. A tradução é da Marília Garcia, que também traduziu outras obras da Ernaux.
Annie Ernaux ganhou o Nobel de Literatura em 2022 e eu só fui ler alguma coisa dela agora. Sendo assim, podemos supor que eu só vou colocar as mãos em um livro da Han Kang em 2026.
30 de out. de 2024
Sem título II
O final de outubro não tem sido lá muito bom. Tenho estado desanimada e apática e, à noite, chorosa. No último domingo acordei 12h com uma dúzia de ligações perdidas da minha mãe, preocupadíssima por eu não ter dado um sinal de vida já que, no mais tardar, acordo 8h. Passei o resto do dia molenga e de pijama, não saí de casa e não tive espírito para cuidar dos afazeres domésticos. A semana se iniciou assim, os dias passando de qualquer maneira, o trabalho acumulando, nenhuma leitura rendendo.
Nada demais aconteceu, nada fora do comum daquilo que já é rotina. Não quero me delongar desnecessariamente sobre minha vida pessoal (esse post inteiro já é desnecessário). Recentemente venho, mais do que me é normal, remoendo, ruminando, desejando coisas -- não coisas, mas vivências e experiências -- que muito provavelmente, é o que me parece agora, não vão se concretizar. Experiências que fazem parte da vida de tanta gente e que eu fico a observar do lado de fora, pela janela, incapaz de participar.
Ontem à noite me arrastei para o teatro. Não estava animada para ir, mas o ingresso já estava comprado e fazia um tempo que eu não via uma apresentação do conjunto de música em questão. No meio do espetáculo, durante uma canção de amor, talvez, notei a troca de olhares de dois dos músicos. Quanto mais acontecia, mais o pensamento se formava: serão eles um casal? Acompanho o conjunto faz um tempo e nunca tinha reparado. Eles se olhavam com frequência, sorrindo, e ela cantava as partes mais bonitas das canções para ele. Casal ou não, era um olhar terno, de cumplicidade e admiração, o tipo de coisa que existe tanto entre um casal de amantes quanto entre dois músicos experientes e apaixonados pelo o que fazem. Naquele instante, fiquei feliz de ser testemunha de um momento tão singelo. Segurei a risada e as lágrimas, aplaudi com os demais ouvintes, e saí de lá meio deslumbrada com esse negócio que a gente chama de vida.
Sigo olhando pela janela.
10 de out. de 2024
AGF
Essa semana recebi uma compra que fiz num sebo online. Veio tudo muito direitinho, e eles embrulharam meus livros numa folha do Suplemento Literário de Minas Gerais, cuja edição comemorava o centenário do poeta Alphonsus de Guimaraens Filho. Calhou que na folha vieram quatro poemas que eu até então desconhecia. Um deles, Balada dos moços dos tempos d'antanho (p.25 do suplemento), é grande demais para colocar nesse post, mas deixo aqui os outros três, já que não consegui escolher um só.
***
2 de out. de 2024
Leituras de agosto e setembro
- Ideias para adiar o fim do mundo (Companhia das Letras, 2019) do Ailton Krenak. Do Krenak eu nunca tinha lido nada, então comecei pelo mais famoso, que coincidentemente era o que estava dando mosca no sebo. O Ideias... é a reunião das adaptações de duas palestras e uma entrevista; três textos, no total. Particularmente, acho que ouvir o Krenak palestrar deve ser mais cativante do que ler a palestra, mesmo que adaptada. Um texto que foi produzido para ser discursado para uma plateia geralmente não tem o mesmo efeito quando a gente lê na sala da nossa casa. Ainda assim, foi bom ler o Krenak e finalmente conhecer mais da pauta que ele defende.
***
Já no início de setembro entrei de férias, o que significa que a leitura rendeu. Viajei, levei cinco livros comigo e consegui ler todos os cinco. Isso só confirmou minha suspeita de que talvez o ideal seja eu largar todos os meus compromissos e virar uma eremita que vive apenas de leitura. Comecei o mês com
- O céu dos suicidas (Alfaguara, 2012), do Ricardo Lísias, autor que eu não conhecia. O livro foi comprado esse ano, o clássico vi num sebo, o título me chamou atenção, etc. A trama trata de um colecionador, há anos sem ter uma coleção, que deve lidar com o suicido de seu melhor amigo. É meio tosco resumir um livro em uma frase, mas é esse o acontecimento que desencadeia toda a narrativa. O livro tem capítulos bem curtinhos, que não ultrapassam duas páginas -- o que combina com um colecionador de selos e tampinhas de garrafa, miudezas -- e por conta disso a leitura flui bem rápido. Não foi uma leitura que me conquistou, confesso, mas gostei de conhecer a escrita do Lísias e espero ler outro livro dele no futuro. Depois li
- Bambino a Roma (Companhia das Letras, 2024), do queridíssimo Chico Buarque. Esse eu estava super animada para ler; é lançamento e também o segundo do Chico que leio esse ano. Bambino..., que traz na capa a indicação "FICÇÃO" logo abaixo do título, apresenta dois anos de uma infância em Roma que se constrói através da memória, do real e do imaginário. Não é de hoje que Chico faz esse jogo entre memória e esquecimento -- e, consequentemente, aí entra o imaginário, que completa as lacunas. Eu queria falar mais sobre esse livro (que eu gostei demais), mas, francamente, no momento me faltam palavras e esse post tem que sair logo. Desculpa, Chico!
- Auto-retrato e outras crônicas (Record, 1989), do Drummond. Ou melhor, finalizar a leitura. Eu tinha iniciado ele em abril (!!!), mas as circunstâncias da vida (leia-se desanimo total) me fizeram deixar ele de lado. A seleção das crônicas foi feita pelo Fernando Py, tendo como fontes a revista Leitura, o Correio da Manhã e o Jornal do Brasil. As crônicas, organizadas por ordem de publicação, abrangem os anos de 1943 até 1970, mas a maioria delas é da década de 60. Como todo bom cronista, Drummond compõe um delicado retrato daquilo que era o mundo na época, como no caso de "Ontem, em casa de Anibal...". Destaque para "Chuva no papel" e "Os dias escuros", que falam das chuvas no Rio de Janeiro (nada mudou); "Coração de moça", sobre transplante de órgãos; e "A Banda", que é exatamente sobre o que você está pensando.
- Dois irmãos, do Milton Hatoum (Companhia de Bolso, 2006). Não tenho muito o que falar desse aqui (desculpa) além de que estou satisfeita demais por ter lido um livro que parece que todo mundo leu menos eu. Gostei da leitura. Agora vou ir atrás da adaptação em quadrinhos dos irmãos Gabriel Bá e Fábio Moon.
- Pernoite (Martins Fontes/FUNARTE, 1989), do Antônio Maria. O Maria é um dos meus grandes queridinhos quando se trata de crônica (o outro é o Braga, claro). Esse foi um achado de sebo, e fiquei curiosa para ver se nele tinha crônicas que não entraram em Vento Vadio (Todavia, 2021), ótima antologia do Maria organizada pelo Guilherme Tauil. A resposta é sim, tem crônicas que não estão no outro livro (ou melhor, Vento Vadio traz novas crônicas que não estão em Pernoite), mas acho que por um bom motivo: Maria tem crônicas melhores do que essas. A proposta de Pernoite é trazer uma seleção das crônicas publicadas pelo Maria numa coluna de mesmo nome, mas, francamente, da seleção apresentada quase nenhuma se destaca. Se você quer conhecer o Antônio Maria, ou quer conhecer ele melhor, recomendo mesmo Vento Vadio, que é um trabalho muitíssimo cuidadoso do Tauil e uma excelente apresentação ao Maria (mas também dá para dar uma olhada nas crônicas dele no Portal da Crônica Brasileira).
- Chico Buarque: Perfis do Rio, da Regina Zappa (Relume Dumará/RioArte, 1999). Foi engraçado ler esse aqui depois de Bambino a Roma, porque algumas informações e anedotas trazidas pela Zappa também foram utilizadas pelo Chico para o desenvolvimento da narrativa dele (a bicicleta cromada, a namoradinha do colégio...), então foi um surpresa agradável ir encontrando as semelhanças entre um e outro. O objetivo do livro em questão é realizar um perfil do Chico -- não é uma biografia! Gostei bastante do início do livro, das conversas da Zappa com o Chico, o relato dela de como é o backstage de um dos shows dele, os relatos das pessoas que trabalham com ele. Da metade para o final algumas partes vão ficando menos interessantes, particularmente os capítulos em que Zappa entrevista a Marieta Severo e as filhas do Chico. Um perfil é para ser algo pessoal, claro, mas nesses momentos tive a impressão de que muito da vida pessoal dele foi exposta (isso vindo de alguém que gosta de ler cartas e diários). Ainda assim, gostei de ler sobre o processo criativo do Chico, como ele trabalha, as anedotas da juventude dele.
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Eu ia escrever um post só para a resenha de Bambino a Roma, mas descobri que deveria ter começado a escrever assim que terminei o livro (a
ideia está mais fresca na cabeça) e não quase um mês depois (a ideia já
começou a apodrecer). E também que não deveria ter lido a resenha do Odorico Leal
antes, o que me deixou seriamente desmoralizada e descrente na minha
capacidade de resenhista. Acabou que, no final das contas, nem um parágrafo saiu. Lições aprendidas: 1) escrever o quanto antes;
2) não ler a resenha dos outros antes de terminar de escrever. Bola pra
frente.
Bom, esse foi o meu mês (agosto quase não conta). Só autores nacionais! Escrevendo esse post fui perceber que o único livro da lista que não é de segunda mão é o Bambino a Roma, já que é um lançamento. O resto é fruto dessa minha honrada labuta como rato de sebo.


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