Gostaria de poder falar que esse mês minhas leituras não renderam porque estive ocupada com as leituras acadêmicas, ou porque estive atarefada com compromissos do trabalho. Talvez porque finalmente iniciei aquela aula de desenho que venho sonhando a tempos e agora passo todo o meu tempo livre rascunhando. Porque voltei a caminhar todo dia, porque comecei até a correr. Porque larguei tudo e fui fazer um mochilão pela América Latina, porque resolvi virar monge, porque estou apaixonada demais para ler...
Comprei Paixão Simples, da Annie Ernaux, no início de outubro. O livreiro, quando me viu com ele na mão, recomendou muitíssimo a leitura e profetizou que eu iria iniciar e terminar no mesmo dia da compra -- é um livro curtinho, 61 páginas, então não foi uma façanha muito difícil. Paixão Simples, publicado inicialmente em 1991, vai tratar do caso que a autora viveu com um homem casado e mais novo. No fundo, o livro não é sobre o caso, nem sobre o homem e nem sobre a própria autora; no final da página 60, lemos: "Ele me disse 'você não vai escrever um livro sobre mim'. Ora, mas não escrevi um livro sobre ele, nem sobre mim mesma. Apenas expressei com palavras -- que talvez ele nem leia, e não são destinadas a ele -- o que a existência dele, por si só, me trouxe. Um tipo de dom reverso".
Está arriscadíssimo que Paixão Simples seja o melhor livro que li em 2024. Inclusive, estou doida para reler, o que quase fiz logo no dia seguinte que concluí a leitura pela primeira vez. Não estou escrevendo isso aqui para ser uma resenha, é só o post da leitura do mês (ou seja, é pra ser breve), mas essa leitura me deixou completamente embasbacada e eu recomendo demais da conta, mesmo. Ernaux tem uma escrita extremamente precisa, sem rodeios, mas com uma expressividade e alcance imensos. Foi realmente um livro delicioso de se ler.
A edição é da Editora Fósforo -- muito caprichada, papel Pólen Bold 90 g/m², com um projeto gráfico que também marca os outros livros da autora lançados pela casa, pra todo mundo ficar combinando na estante. A tradução é da Marília Garcia, que também traduziu outras obras da Ernaux.
Annie Ernaux ganhou o Nobel de Literatura em 2022 e eu só fui ler alguma coisa dela agora. Sendo assim, podemos supor que eu só vou colocar as mãos em um livro da Han Kang em 2026.
Mulher, a gente sempre tá se sentindo meio culpada por não conseguir fazer várias coisas, né? Também sinto essa pressão. Internamente tenho uma vozinha filha da mãe que fica dizendo "nossa, você quer criar conteúdo literário como? Nem lê, não acompanha os lançamentos, não conhece os clássicos" costumo não dar muita trela, pois entro na paranoia e começo a dar razão. Fiquei curiosa para conhecer Paixão simples, ainda não conheço o trabalho da autora e a citação me deixou reflexiva, parece ser um livro interessante para pensar sobre sentimentos e relações.
ResponderExcluirGarota do 330
Nossa, sim, a cobrança é grande, sempre acho que poderia estar sendo mais produtiva, lendo mais... Recomendo demais Paixão Simples, estou com outros livros da Ernaux para ler, depois vou trazer eles para o blog também. Beijos!
ExcluirTá bom, vc me convenceu a ler e prometo fazer um post como o seu assim que comprar e ler. Eu adoro livros que trazem essa reflexão sobre os sentimentos e o impacto que as pessoas tem na gente. Não conhecia a Annie Ernaux, então vai ser ótimo pra me introduzir nos trabalhos dela.
ResponderExcluirAbraços, nanaview 🖤
Uhul!!! <3 Olha, no site da Travessa tem alguns livros dela com desconto, inclusive o Paixão Simples...
ExcluirEu quaaaase coloquei a minha passagem favorita do livro no post, mas como é o parágrafo final do livro achei melhor evitar caso alguém fosse querer ler o livro, para não diminuir o impacto das palavras durante a leitura. Esse também foi o primeiro da Ernaux que eu li, achei uma boa introdução e já estou com outros dela para ler.
Espero que goste da leitura! <3