26 de dez. de 2024

Os melhores "Melhores do Ano" de 2024

Eu tinha pensado em fazer uma lista das melhores leituras do ano, ou talvez dos melhores filmes, mas no final das contas tive a brilhante ideia de deixar esse trabalho de retrospectiva pros outros e simplesmente listar as melhores (e/ou mais conceituadas/populares) listas de melhores do ano. Praticidade é tudo!

 

Os Melhores Livros de 2024, Quatro Cinco Um 

A Quatro Cinco Um, a revista dos livros, perguntou para 180 colaboradores quais foram os melhores lançamentos do ano. Ela não forneceu uma lista preliminar, o que é legal porque amplia as possibilidades de respostas, mas o que é ruim porque resultou num monte de livro com 1 votinho só. É por causa dessa lista que eu estou doida para ler O homem não existe: masculinidade, desejo e ficção, da Ligia Gonçalves Diniz.

Os mais lidos de 2024, Portal da Crônica Brasileira

No início do mês o Guilherme Tauil postou no Portal quais foram os autores e as crônicas mais acessadas do ano. Das favoritas do público, destaco "O padeiro", do Rubem Braga (meu queridinho e queridinho de muita gente também, já que ficou com o primeiro lugar na categoria perfil mais acessado).

The Best Movie Posters of 2024, MUBI

Aparentemente, na MUBI eles têm um movie poster columnist -- ou seja, o emprego dos sonhos: é tipo a Carrie Bradshaw se ela fosse cinéfila. Não dá pra viver só disso, claro, assim como a gente sabe que não tinha como a Carrie se manter na NY dos anos 1990/2000 tendo só uma coluna de jornal sobre sexo, mas a gente pode sonhar. O Adrian Curry -- o movie poster columnist -- reuniu os melhores designs do ano, tradição que ele tem desde 2009, pelo menos. Atenção para o poster de Retratos Fantasmas (dir. Kleber Mendonça Filho) em sexto lugar. Brasil-sil-sil!!

The 10 Best Books of 2024, The New York Times

Um tempinho atrás o NYT lançou uma lista com os 100 melhores livros do século. Agora foi a vez dos 10 melhores do ano, que foram escolhidos pela própria equipe do jornal. Lá no finalzinho da página tem outras listas de 10 melhores livros -- os 10 melhores livros de romance, thriller, etc, etc.

Goodreads Choice Awards 2024, Goodreads

Desde 2011 o Goodreads escuta a voz do povo e organiza uma votação para eleger os melhores livros do ano, divididos em suas respectivas categorias. A votação de 2024 angariou 6,261,936 votos (!!!) e elegeu um monte de livro que eu não conheço. Também foi aqui que eu descobri que, pelo jeito, romantasy é um gênero literário agora.

Hodges Figgis' Book of the Year, Hodges Figgis Booksellers

A Hodges Figgis é, simplesmente, a livraria mais antiga da Irlanda, fundada em 1768. Eles organizaram a lista de melhores do ano em três categorias: Livro do Ano, Livro Irlandês do Ano e Livro Infantil do Ano. Até aqui eu tentei ser cuidadosa ao explicar como cada publicação fez para construir sua lista, mas não encontrei muito sobre como a Hodges Figgis escolheu os vencedores. Graças a eles descobri que o Colm Tóibín lançou, agora no final do ano, uma continuação de Brooklyn que estou ansiosa para ler.

13 de dez. de 2024

Leituras de novembro (quase que no singular de novo)

Em novembro fiz o que estava querendo fazer há um tempo e reli Paixão Simples, da Annie Ernaux. Depois disso li O Jovem, também da Ernaux. Se Paixão Simples é um livro curto, com 61 páginas, esse é menor ainda, com 56 páginas. E só 30 delas são de texto, o resto é dedicado à fotografias da autora -- a primeira foto, inclusive, é a mesma da capa de Paixão. Francamente, acho que tudo poderia ter sido um livro só, levando em consideração que são dois textos curtos (nenhum deles é dividido em capítulos, apesar de ter quebras de texto ao longo de ambos) e que tratam de temas em comum: o processo de escrita, desejo, tempo, memória...

Eu aproveitei que em novembro teve promoção no site da Travessa e comprei alguns títulos da Ernaux, O Jovem incluso. Só depois fui ver que a Todavia lançou um box lindíssimo com todos os livros dela que eles publicaram aqui no Brasil e quase espumei pela boca dentro da livraria (hipérbole).

30 de nov. de 2024

Sem título #3

Sábado é dia de andar por aí, mesmo depois de uma semana inteira mal dormida. Passei os últimos dias ansiosa e apreensiva, o que geralmente bagunça o meu ritmo. E, além desses últimos dias, outubro também foi um mês complicado e novembro seguiu no mesmo compasso. Mas aí o que estava me tirando o sono durante a semana se resolveu ontem, no penúltimo dia do mês, num desfecho que não é o fim, mas uma promessa  -- eu espero! -- de coisa boa, bonita e letrada. 

Então sábado é dia de andar por aí, feliz, na esperança que esse deleite dure e dure e dure e permaneça comigo por tempo o suficiente para que eu faça o que tenho que fazer e, quando eu ficar triste, que a lembrança desse estado de contentamento seja o suficiente para me encorajar.

Agora tudo é lindo: o casal de noivos saindo da igreja, o pombo aos pés de S. Sebastião, a banda tocando Bohemian Rhapsody, a senhora com um ventilador portátil na mão, o senhor sorrindo e me chamando de menina, a loja de CDs tão movimentada que é impossível andar sem pedir licença o tempo todo, a gringa se desenrolando em português mesmo eu sabendo inglês, a água de coco cara, esse tanto de árvores de Natal. E eu faço parte desse mundo e tenho tanto amor por ele que às vezes parece até impossível ser triste.

17 de nov. de 2024

I'm in the pleasure business

Não sou muito familiarizada com o trabalho do Anthony Bourdain, mas um tempo atrás li uma citação atribuída a ele e vira e volta me pego pensando nela:

"As a chef I'm not your dietician or your ethicist, I'm in the pleasure business."

Mas como é fácil atribuir qualquer fala a qualquer pessoa, fui em busca da fonte na esperança do Bourdain realmente ter falado isso. Primeiro cheguei até o Eater.com, que me mandou para o Grub Street. A frase em questão é sim do Bourdain (uhul!), e ela veio de um painel em que ele participou com os chefs Alice Waters e Duff Goldman em maio de 2009.

É uma pena que eu tenha encontrado somente trechos do painel; dá para perceber que tem certas falas em que os chefs fazem referências a coisas ditas anteriormente. Enfim, deixo aqui o vídeo que tem a citação em questão. Abaixo do corte está a transcrição das duas principais falas do Bourdain presentes nesse trecho, já que acredito que a segunda complementa a primeira, e a minha tradução. Caso alguém se interesse pela tradução do vídeo todo, é só avisar.


8 de nov. de 2024

O Quarto ao Lado (2024), dir. Pedro Almodóvar

Saí agora pouco de uma sessão de O Quarto ao Lado, do Almodóvar. A sessão não estava cheia -- também, é uma terça à noite -- e eu fui sem ver o trailer do filme, sabia só que se tratava de duas amigas de longa data que voltam a ter contato depois de anos separadas.

A trama revolve em torno de Ingrid (Julianne Moore) e Martha (Tilda Swinton): Martha, já debilitada devido a um câncer e com pouca perspectiva de melhora, e decidida a ter uma morte digna ao invés de definhar, pede a Ingrid para acompanhá-la durante seus dias finais. Juro que não quero ser chata, mas não consigo deixar de pensar que a ideia de Martha para sua morte não faz sentido. Por que a necessidade de estar acompanhada, se ela comete o ato quando Ingrid nem está em casa, no quarto ao lado? Por que deixar Ingrid nessa posição vulnerável de cúmplice? E, principalmente, sendo ela uma pessoa instruída e com recursos, por que não a Suíça?

Martha e Ingrid são personagens planas, e nada inferia que elas eram amigas além do fato que isso foi explicitamente dito logo no início. Moore e Swinton, surpreendentemente, apresentaram uma atuação engessada que destoa daquilo que elas são capazes de entregar. O diálogo, por sua vez, era forçado e pouco convincente, as personagens falavam o que sentiam, falavam o que estavam fazendo e discursam com pouquíssima naturalidade seus pontos de vista, deixando pouca abertura para qualquer tipo de sutileza. Li alguns comentários que sugeriam que isso é devido a um problema de tradução (é o primeiro filme em inglês do Almodóvar) e que talvez a coisa toda fosse soar melhor em espanhol, mas, francamente, acho que o diálogo que era fraco mesmo.

Durante o filme, foi impossível não lembrar do Antônio Cícero. Martha, já abalada pela doença, comenta a dificuldade de ler e escrever, de manter a concentração... Passei os dias que seguiram a morte do Antônio Cícero pensando demais nele e na questão do suicídio assistido, que é um assunto marcante para mim, então foi bizarro assistir um filme que se encaixa tão bem nessa discussão, mas que não faz jus ao tópico que retrata.

Como ponto positivo, posso dizer que a Tilda Swinton estava lindíssima e com um figurino impecável que eu fiquei invejando durante a maior parte do filme. A escolha dos tons de batom utilizados pela Julianne Moore também foi fantástica e me fez até pensar "eu deveria usar uns batons assim!", me esquecendo completamente que eles realçam minhas olheiras.

***

Escrevi esse post dia 05/11/2024, logo que saí do cinema mesmo. Engavetei ele por uns dias para ruminar e achar ele ruim, desistir de publicar, desistir de desistir e decidir publicar do jeito que estiver e pronto, tanto faz. Agora solto ele na natureza.

E deixo aqui a crítica da Isabela Boscov, que é muito mais articulada do que eu.