14 de jun. de 2025

16 de junho

No intervalo do concerto fiquei em pé, sozinha, me sentindo meio estúpida enquanto segurava uma dose de whiskey irlandês generosa demais para mim, que não sou de beber. Esse tipo de coisa faz parte da experiência, então quando a moça perguntou aceita? eu disse claro, sim, obrigada e pelo menos passei a ter um copinho plástico para ocupar as mãos. Tentei me distrair olhando os outros, gente que colocava o whiskey pra dentro com muito mais facilidade do que eu, mas não consegui achar nada interessante e foi um alívio quando o intervalo chegou ao fim. No caminho de volta para casa, eu não conseguia parar de admirar essa liberdade, liberdade de poder sair e andar por aí e ouvir música e beber e ver lugares novos: ontem nunca estive aqui, hoje olho para a copa destas árvores e amanhã não vou mais poder andar por esta rua pela primeira vez.

Comecei a pensar neste post de volta ao auditório, depois de vitoriosamente terminar minha dose. Escrevo ele agora, e você o lê no meu futuro.

12 de jun. de 2025

Dia dos namorados não é dia de São Valentim

O dia amanheceu escuro e chuvoso e eu tive que juntar coragem para lavar a cabeça na água fria. Ontem me apareceu uma espinha na testa, então joguei a franja pra frente pra cobrir ela. Preparei a primeira caneca de chá do ano, Earl Grey, meu favorito. Esquentei as mãos na caneca de chá. Tentei ser produtiva no trabalho. Li poesia. Senti frio. No fim do dia, na volta para casa, passei por uma roda de samba e estavam tocando uma das minhas favoritas do Jorge Aragão -- pra onde você for, lá pra mim já é... Esbarrei no cara que partiu o coração da minha melhor amiga. Ou ela mesma partiu o próprio coração, eu sei lá. A vida é engraçada. Chegando em casa, espremi aquela espinha.

20 de mai. de 2025

Sem título IV

A juventude é feita pra gente deixar oportunidade passar. A experiência só vem com o tempo, e quando ela chega já é tarde demais (palavras da minha mãe). Quando penso nisso sempre lembro de uma colega da época do ensino médio. Eu a achava lindíssima. Ela era um ano mais velha, extrovertida e encantadora e amiga de uma amiga. Passávamos o intervalo no mesmo grupo, trocávamos recomendações de livros, nossas conversas iam de religião à política e eu a admirava: ela era feminista. Um dia uma outra amiga em comum me mandou uma mensagem: o que você acha de fulana? Nas entrelinhas: ficaria com ela? Desconversei, sabe-se lá porquê. Anos depois entendi que estava sendo sondada, e lá se foi a oportunidade. Hoje, quando estava lembrando dessa história, lembrei também do sobrenome dela. Não resisti e procurei no Instagram. Ela cursou artes visuais, é tatuadora, ainda mora na nossa cidade. Continua lindíssima. Uma vez, pro aniversário dela, comprei um livro de poemas do Álvares de Azevedo e uma antologia de poemas modernistas, mas fiquei com vergonha de entregar pra ela. Tenho eles até hoje.