20 de mai. de 2025

Sem título IV

A juventude é feita pra gente deixar oportunidade passar. A experiência só vem com o tempo, e quando ela chega já é tarde demais (palavras da minha mãe). Quando penso nisso sempre lembro de uma colega da época do ensino médio. Eu a achava lindíssima. Ela era um ano mais velha, extrovertida e encantadora e amiga de uma amiga. Passávamos o intervalo no mesmo grupo, trocávamos recomendações de livros, nossas conversas iam de religião à política e eu a admirava: ela era feminista. Um dia uma outra amiga em comum me mandou uma mensagem: o que você acha de fulana? Nas entrelinhas: ficaria com ela? Desconversei, sabe-se lá porquê. Anos depois entendi que estava sendo sondada, e lá se foi a oportunidade. Hoje, quando estava lembrando dessa história, lembrei também do sobrenome dela. Não resisti e procurei no Instagram. Ela cursou artes visuais, é tatuadora, ainda mora na nossa cidade. Continua lindíssima. Uma vez, pro aniversário dela, comprei um livro de poemas do Álvares de Azevedo e uma antologia de poemas modernistas, mas fiquei com vergonha de entregar pra ela. Tenho eles até hoje.

19 de mai. de 2025

Palavra guardada

Hoje mais cedo estava passando roupa enquanto ouvia uma entrevista do Gregório Duvivier. Deixo abaixo a transcrição de um dos meus momentos favoritos:

Leitura é muito fundamental, sabe? Ler, ler, ler, ler, ler, ler, ler, assim. E uma coisa que eu gosto, também, é- de algumas coisas- é curioso, porque é super careta isso, conservador, os professores torcem o nariz, mas eu adorava decorar coisas, me ajudou muito a decorar até hoje. E tem uma guerra contra decoreba, que faz sentido, porque decoreba é um saco: ah, tem que- a tabuada- aquela coisa. Mas eu adorava decorar poema, por exemplo, gostei de poesia, no começo, decorando os poemas que os professores pediam e a gente tinha que declamar. É uma coisa que não tem mais na escola hoje em dia, que é mal vista, mas o exercício de saber coisas de cor é uma delícia, um poema que você sabe de cor é um presente que você ganha pra vida toda, é uma companhia que você tem, gratuita, pra qualquer momento de trânsito, de ócio, de- não- você saber um poema de cor é uma ferramenta que você ganha no seu bolso eternamente.

Ano passado uma das minhas poucas metas foi decorar um poema -- e consegui! Então sei que é verdade isso. Às vezes estou caminhando por aí e quem me faz companhia são os versos de Vinicius de Moraes.

3 de mai. de 2025

Feriadão

Quinta coloquei a casa em ordem -- já tinha tempo que não me dedicava a isso, confesso --, arrumei as coisas, puxei os móveis, varri tudo, lavei a cozinha e área de serviço, troquei a roupa de cama e banho, coloquei a máquina para bater duas vezes, lavei o banheiro. Saí só para almoçar no restaurante que passei a frequentar recentemente e percebi que a garçonete já me conhece de tanto eu ir lá. Sexta foi dia de sair e andar pelo centro. Fui comprar uma blusa de frio e aproveitei para me arriscar e procurar uma calça jeans legal (trabalho hercúleo) e dei a sorte grande de gostar da segunda calça que experimentei, que de quebra estava com um preço ótimo. Quebrei a unha, que já é curta, experimentando a calça. Andei sem rumo pelo shopping, só por andar. Comprei uma cartela de adesivos que não vou ter coragem de usar. Depois do almoço, fui em um dos meus museus favoritos, fiquei sentada no jardim um pouquinho e percebi que sinto falta demais de ter um quintal. Lavei a roupa nova. Fui no cinema: Sempre garotas (dir. Shuchi Talati). Percebi, só de noite, que esqueci de tomar meu remédio de manhã. Dormi mal. Hoje, sábado, fui no meu sebo favorito, comprei alguns calhamaços (cinco) e voltei direto pra casa porque não tinha condições de carregar aquele peso todo pelo centro. Almocei horrores. Fui no mercado. Passei um monte (um monte) de roupa enquanto ouvia uma playlist da Mitski. Desisti de ir no cinema: Mulholland Drive (dir. David Lynch). Fiquei jururu porque amanhã já é domingo e essa maré mansa vai acabar. Comecei a escrever esse negócio aqui.

Tenho que responder os comentários aqui do bloguinho, comentar nos blogs que eu leio, dar um jeito no tanto de rascunho abandonado pela metade que tem por aqui -- achei que fosse resolver isso no BEWA, mas não foi dessa vez. Tenho que colocar as leituras em dia, tenho que escrever, tenho que atualizar meu currículo, tenho que um monte de outras coisas. Mas durante esses três dias foi bom organizar a casa, cuidar das minhas coisinhas, e deixar as preocupações para segunda. No meio do caminho notei que estou começando a me sentir eu mesma outra vez, o que é uma bonança depois desse tempo todo meio desalinhada.

Amanhã, domingo, eu vou desejar que seja sábado outra vez. Talvez eu assista Nosferatu (dir. Robert Eggers).